terça-feira, 19 de agosto de 2008

Até onde?

Até onde estamos dispostos a ir em viagem?
O que é isso de ter um espírito aventureiro?


Há os que preferem destinos tropicais, ricos culturalmente, simplesmente distantes ou os que estão na moda.

Há os que planeiam com antecedência, os que mal têm tempo para preparar a mala, os que enchem duas e três malas, os que têm mapa e o rumo traçado, que antes de partirem já fizeram a viagem pela net.

Há os que simplesmente partem com uma pequena mochila, uma escova de dentes e umas cuecas, talvez num inter-rail, ficam em pousadas, fazem uns biscates pelo caminho, comem umas sandes de fraqueza e regressam a casa de espírito renovado. No outro extremo, há os que escolhem hoteis ***** (cinco estrelas, não foi nenhum palavrão), refeições de faca e garfo e deslocam-se em assento de primeira no avião.

Referi-me aos que partem em férias, mas esqueci-me de mencionar que uns partem em grupo, outros aos pares e outros... a "solo".

E, na grande viagem da vida, como somos???

Também há os que planeiam tudo ao mais ínfimo pormenor e os que caminham sem nada esperar da vida. Os que estabelecem metas e tudo fazem para cumpri-las e os que vão consoante o vento os leva.

E há sempre os "meio-termo", mas esses não interessam agora. Voltemos aos extremos...

Há os aventureiros, os que fazem a viagem em solitário, fugindo às amarras, querendo sugar (não lêr "xugâr" - açúcar em inglês) o máximo do Mundo, recolher o maior número possível de dados, amostras...
Serão esses os destemidos?

Fugir ou evitar os compromissos, as tais amarras, é um sinal de lucidez ou de fraqueza? Será que nos habituamos à nossa independência de tal modo que temos receio de perder a nossa liberdade?
E se tudo não passar de uma complexa farsa???? Serão os nossos medos os verdadeiros culpados? O medo de nos expor-mos? De mostrarmos o que realmente somos? Não se trata de nos verem pela manhã, cabelos em pé, sem desodorizante ou perfume, de verem bem de perto as nossas imperfeições físicas. É muito mais...
No dia-a-dia empenhamo-nos em mostrar ao Mundo o quão fortes somos, desprendidos, decididos. Quando ao fim da tarde chegamos, finalmente, a casa deixamos o corpo repousar em terreno seguro. Cai o pano e ficamos só nós, sem mais máscaras nem defesas. Como é possível partilharmos este espaço sagrado com mais alguém???
Um belo dia achamos que "aquele" poderá ser o "tal". Achamos... Como dizia hoje o "Martins": - E se ela tiver um cão? O "Martins" ficaria destroçado se fossem morar juntos e uma ela qualquer tivesse um cão porque ele não quer lá em casa o ão ão... É nesta fase que começamos à procura dos defeitos no outro, é mesmo à procura... a pensar como o outro vai querer mudar os nossos hábitos, a nossa rotina, a nossa maneira de pensar, a nossa casa, o espaço sagrado. "Hum, com outra pessoa em casa,quando e onde volto a estar só comigo?". Soa a invasão de propriedade privada, profanação de espaço de culto...

Então, serão as nossas incertezas as verdadeiras culpadas?
E se afinal, um dia, olharmos para o outro lado da rua e virmos alguém, alguém que desperta ainda mais a nossa atenção, numa altura em que parecia que já tínhamos encontrado o tal? E se a relação arrefece? E se o sentimento acaba?
Fazem-se roteiros turísticos de todos os recantos do mundo mas falta o mais importante, o da grande viagem.
E quanto ao "Carpe Diem", "Martins", hoje parece-me que foi escrito por um Horácio inseguro, cheio de medo de um dia estar só em casa e sentir que é tão aborrecido e desinteressante que o melhor mesmo é aproveitar a vida, distrair-se com ela e não sentir-se mais.
E o verdadeiro pesadelo não seria o outro, o tal, o companheiro, ou o possível companheiro de viagem, achar isso mesmo de nós?
Não precisamos dizer tudo o que pensamos mas que aquilo que dizemos seja verdadeiro...

Como li recentemente, é preciso expormo-nos só aí alguém poderá gostar daquilo que realmente viu em nós.


O maior obstáculo da nossa viagem... somos nós!

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